Reciclar comida descartada diminui emissões e preserva recursos naturais

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A pressão sobre o sistema agroalimentar global nunca foi tão grande. Com o crescimento populacional, a urbanização acelerada e a degradação de solos, a cadeia de produção de alimentos — do campo ao descarte — tornou-se uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa. Diante desse cenário, mudanças urgentes são necessárias, e uma delas está no destino dado ao desperdício de comida.  

Cerca de um terço dos alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou jogado fora. Esse descarte representa um problema de segurança alimentar e um enorme desperdício de terra, água e energia. Quando esses resíduos vão parar em aterros sanitários, o impacto ambiental é ainda pior. A decomposição anaeróbica gera metano, um gás com efeito de aquecimento mais de 80 vezes superior ao dióxido de carbono em um período de 20 anos.  

Um estudo publicado na Nature Food analisou dados de 91 pesquisas realizadas em 29 países e comparou três métodos de reciclagem de resíduos alimentares: compostagem, digestão anaeróbica e reaproveitamento como ração animal. Os resultados mostram que essas alternativas reduzem drasticamente as emissões em comparação com o descarte em aterros.  

Nos Estados Unidos, na União Europeia e na China — três dos maiores produtores de lixo orgânico do mundo —, a eliminação total do envio de resíduos para aterros poderia ter um impacto significativo. Nos EUA, por exemplo, a redução equivaleria a neutralizar as emissões de metano de quase 9 milhões de vacas leiteiras, cerca de 90% do rebanho nacional.  

O reaproveitamento de alimentos adequados para ração animal surge como uma das soluções mais eficientes. Na China, mais de 5% das terras cultivadas com milho e soja poderiam ser poupadas se parte do desperdício fosse convertido em alimentação para animais. Isso reduziria a dependência de importações e liberaria áreas para outros fins, como conservação ambiental.  

Além de cortar emissões, a reciclagem de resíduos alimentares traz benefícios como economia de água, combustível e fertilizantes. A digestão anaeróbica, por exemplo, gera biogás, uma fonte renovável de energia. Já a compostagem recupera nutrientes valiosos para o solo.  

Embora políticas públicas e investimentos em infraestrutura sejam essenciais, a mudança também depende de ações individuais. Consumidores podem contribuir reduzindo o desperdício doméstico e apoiando iniciativas de reaproveitamento. O estudo reforça que soluções já testadas e de baixo custo estão disponíveis — basta priorizá-las.  

Onofre de Araújo Neto

Onofre de Araujo Neto é cofundador, CEO e Publisher do Portal eCycle, veículo digital pioneiro no Brasil e uma das principais referências em informação e práticas de sustentabilidade. Na função de Publisher, exerce o papel de orientação estratégica da linha editorial, assegurando coerência, qualidade e credibilidade na difusão de conteúdos. Sua atuação garante que a curadoria de pautas esteja alinhada com os princípios de uma educação ambiental crítica, apoiada em uma comunicação acessível e responsável. O posicionamento editorial do portal fundamenta-se na promoção do consumo consciente e na capacitação dos leitores para compreenderem seu papel no enfrentamento dos principais dilemas socioambientais da atualidade. Essa abordagem integra de forma ampla e interconectada temas como mudanças climáticas, economia circular, biodiversidade, transição energética e justiça social, reconhecendo-os como dimensões complementares de um mesmo desafio global. Nesse contexto, sua missão é traduzir debates complexos em informação clara e mobilizadora, fortalecendo a consciência crítica e estimulando a ação responsável dos leitores. O compromisso editorial é, portanto, oferecer não apenas notícias, mas caminhos para a construção de uma sociedade mais sustentável e justa. Com mais de uma década de experiência à frente do eCycle, é responsável por assegurar a credibilidade e a relevância das publicações do portal, atuando também como seu representante institucional e porta-voz oficial.

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