Qual a diferença entre raça e etnia?

Os conceitos de raça e etnia são comumente confundidos entre as pessoas, no entanto, eles são completamente diferentes. Apesar de não ser um consenso, a raça é tida como um conceito complexo de fator biológico — que já foi abandonado por muitos — enquanto a etnia é considerada algo sociológico ligado aos costumes e tradições de um povo. 

A guerra contra o racismo estrutural na ciência

Qual a diferença entre raça e etnia?

Para entender melhor qual a diferença entre raça e etnia é essencial saber o que caracteriza cada um desses conceitos. A seguir confira um pouco sobre cada um desses termos:

Raça

Raça é um termo, recentemente, considerado como “ultrapassado”. Por muitos anos ele foi considerado como um conceito biológico, que categoriza os indivíduos de acordo com suas características genéticas, seus traços e cor de pele. Desta forma, surgiram as “raças” conhecidas hoje em dia: negros, brancos, pardos e amarelos.

Porém, depois de anos de estudo desse conceito, estudiosos da área da biologia optaram por abandonar a terminologia. A explicação é simples: esses especialistas não acham que as diferenças humanas e seus patrimônios genéticos são grandes o suficiente para que a humanidade seja dividida em raças diferentes. 

Além disso, o conceito de raça começou a surgir com uma intenção hierarquizada, por volta dos séculos XVIII – XIX, devido aos naturalistas. Desde o início, a classificação racial foi usada como uma maneira de colocar algumas pessoas como melhores que as outras. Essa relação aconteceu devido à ligação que os estudiosos da época faziam entre os traços físicos de um grupo ao suas habilidades cognitivas —  o tamanho do crânio, por exemplo.

Racismo Científico

Sendo assim, a raça é um conceito que entende as diferenças fenotípicas e aplica isso como uma explicação do porquê um povo é “melhor” do que o outro. Essa ideia foi a base para o racismo como ele é. Além disso, também foi fomentada por anos devido a pseudociências como o racismo científico e a eugenia. 

Ao início do século XX, essa mentalidade já havia ganhado força ao redor do mundo e era usada como forma de justificar e legitimar sistemas de doutrinação racial. Logo, fortalecendo o preceito para aqueles que não se enquadravam no padrão de branco europeu, como negros, indígenas e asiáticos. 

Atualmente, o termo raça é usado para questões sociológicas, ou seja, para o melhor entendimento de desigualdades raciais. Os movimentos sociais defendem que é preciso saber que esse conceito foi criado para dar poder à “raça branca” sobre outras pessoas. Isso fez com que grupos que não se encaixam nessas características físicas fossem historicamente discriminados e atacados.

Etnia

A etnia, por outro lado, já é considerada um conceito sociológico há muito tempo. A palavra etnia vem do grego ethnos, que significa “gente ou nação estrangeira” e determina um grupo de pessoas com aspectos culturais semelhantes, comumente ligados a um território. 

Sendo assim, grupos étnicos tem suas características sociais próprias, seus costumes, suas tradições e seus modos de vida únicos. Além disso, essas pessoas também podem compartilhar traços linguísticos e religiosos. Um exemplo prático da separação do termo raça e etnia é:

“Aquela pessoa se identifica como amarela e é de etnia japonesa”.

A etnia não é um conceito imutável, ela pode se alterar, e até mesmo se perder com o passar do tempo. Por exemplo, pessoas italianas e japonesas que vieram ao Brasil durante as imigrações do início do século XX e tiveram filhos podem ter perdido alguns traços de sua etnia, devido ao convívio constante com brasileiros e pessoas da américa latina. 

A etnia pode ser vista como algo macro ou micro. Ou seja, uma pessoa da Tailândia tem características sociais bem diferentes quando comparada com um brasileiro. Porém, um brasileiro branco também é etnicamente diferente de um brasileiro indígena — assim como dois indígenas podem se diferenciar por serem de grupos diferentes, como os aruak e os karib.

Alguns cientistas consideram os traços fenótipos como algo que também determina uma etnia. Entretanto, isso não é consenso entre as ciências. 

Antirracismo precisa ser praticado por pessoas e empresas

Qual é a etnia do povo brasileiro?

Em seu livro “O Povo Brasileiro” Darcy Ribeiro comenta: “A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciam em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação”.

Sendo assim, houve uma grande confluência de etnias em território nacional, o que resultou na formação de um povo miscigenado e diverso. As principais etnias que formaram o Brasil, ainda nos seus primeiros séculos, foram indígenas, brancos europeus e negros escravizados trazidos da África. 

Quando o país já estava estabelecido também surgiram outras etnias que se tornaram parte essencial da população brasileira, como os japoneses e chineses. Atualmente, o Brasil tem a maior população de japoneses e descendentes de japoneses fora do Japão. Todas essas pessoas podem ser consideradas brasileiras, porém, dividem traços étnicos com outras nações. 

Raça no Brasil

O conceito de raça no Brasil foi fundamental para estruturar dinâmicas racistas na sociedade. Sendo o último país a abolir a escravidão, o país latino foi construído no racismo cientifico e na ideia de que os brancos eram “superiores” a qualquer outra “raça”. Por esse motivo, houve a escravização e o genocídio dos povos indígenas, bem como a exploração dos corpos negros.

Essas situações deixam cicatrizes gigantes na sociedade brasileira até hoje. Afinal, negros e pardos constituem mais de 50% da população, e mesmo assim são duas vezes mais propensos a serem assassinados (1) e são 72% das pessoas desempregadas no país (2). Além disso, os povos indígenas representam apenas 0,5% das pessoas matriculadas em cursos de ensino superior (3). 

Por esses motivos, alguns movimentos sociais levantam a bandeira de que o conceito de raça deve ser ressignificado para que a humanidade consiga entender como as sociedades foram fundadas em ideais racistas que promovem desigualdade e violência contra pessoas não-brancas. 

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais