Produto químico usado para proteger encanamentos migra para córregos, elevando níveis de nutrientes e metais e desequilibrando ecossistemas

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A água que sai limpa da torneira pode estar deixando um rastro de poluição nos rios urbanos. Um estudo da Universidade de Pittsburgh revela que o fosfato adicionado aos sistemas de abastecimento para impedir a corrosão de tubos de chumbo vaza para o meio ambiente, alterando a composição química de córregos e acelerando o crescimento descontrolado de algas. A prática, essencial para a saúde pública, expõe uma fragilidade da infraestrutura subterrânea e seus efeitos colaterais até então pouco mapeados.

A pesquisa, publicada na revista PLOS Water, analisou a química de cinco córregos urbanos antes e depois da implementação do tratamento com ortofosfato na região de Pittsburgh. Os resultados mostram que as concentrações de fósforo aumentaram mais de 600% na água dos riachos. Metais traço, como cobre, ferro e manganês, apresentaram elevações de quase 3.500%, indicando o transporte conjunto de subprodutos da corrosão das tubulações.

A descoberta aponta para uma via de poluição por fósforo frequentemente negligenciada: o vazamento da própria rede de distribuição de água potável. Tradicionalmente, o foco recai sobre fontes como efluentes de esgoto ou escoamento agrícola. A infraestrutura subterrânea, portanto, não funciona como um sistema completamente isolado do ambiente.

A questão tem dimensão nacional. Sistemas de água com tubulações de chumbo são comuns no Nordeste, na região dos Grandes Lagos e no Meio-Oeste dos Estados Unidos, afetando potencialmente cerca de 20 milhões de pessoas. Emergências de saúde pública relacionadas à contaminação por chumbo, como as registradas em Flint, Michigan, e em Washington, D.C., tornaram o uso de inibidores de corrosão uma prática padrão em diversas partes da América do Norte e Europa.

Os cientistas propõem um conjunto de ações para mitigar o problema. Entre elas estão a reparação da infraestrutura envelhecida, o aprimoramento do tratamento de águas residuais, a otimização das dosagens de fosfato e o desenvolvimento de métodos inovadores para monitorar as interações entre a infraestrutura e os ecossistemas. O estudo serve como um alerta para a necessidade de um debate amplo sobre a qualidade da água e os impactos ambientais das soluções de engenharia voltadas para a saúde pública.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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