Imagem de Mike Setchell no Unsplash
A expansão da energia eólica, vital para a transição energética global, traz consigo um desafio ambiental significativo: as colisões de aves com as pás das turbinas. Encontrar medidas de mitigação eficazes e práticas tem sido uma busca constante para cientistas e setor energético. Uma solução aparentemente simples, testada em um parque eólico na Noruega, mostrou resultados surpreendentes: pintar uma das três pás do rotor de preto reduziu a taxa anual de mortalidade de aves em mais de 70%. A pesquisa, conduzida na usina de Smøla, oferece um caminho promissor para minimizar um dos impactos mais diretos da energia eólica sobre a vida selvagem.
O experimento, detalhado em estudo publicado em 2020, adotou uma metodologia rigorosa. Quatro turbinas que já haviam registrado colisões com aves tiveram uma de suas pás pintada de preto. Outras quatro turbinas vizinhas, com histórico similar, serviram como controle para comparação. A eficácia foi avaliada ao longo de onze anos, com buscas por carcaças realizadas regularmente por cães farejadores especialmente treinados. A análise dos dados, que incluiu o esforço de busca, seguiu uma abordagem estatística sólida, comparando o período antes e depois da pintura nas turbinas tratadas e de controle.
Os resultados foram marcantes. Enquanto o número de aves mortas aumentou nas turbinas de controle no período posterior à intervenção, ele caiu drasticamente nas turbinas com a pá pintada. O efeito foi particularmente forte sobre as aves de rapina. Antes da pintura, seis águias-marinhas foram encontradas mortas nas bases das turbinas que seriam pintadas; após a intervenção, nenhuma fatalidade da espécie foi registrada nesses locais. Acredita-se que a pintura aumenta a visibilidade das pás em movimento, criando um contraste que quebra o “efeito de mancha” visual, permitindo que as aves, especialmente aquelas com alta acuidade visual como as rapinas, identifiquem o obstáculo e tomem ações evasivas a tempo.
A implementação da medida em turbinas já operacionais, como foi o caso em Smøla, mostrou-se logisticamente complexa e dispendiosa, exigindo trabalho em altura e condições climáticas específicas. No entanto, especialistas destacam que o custo é drasticamente reduzido quando a pintura é aplicada durante a fabricação ou construção das turbinas. A cor preta foi escolhida por oferecer o maior contraste, mas a eficácia de outros esquemas de cores permanece uma área para investigação futura.
A confirmação desses resultados em outros locais, com diferentes comunidades de aves e condições ambientais, é o próximo passo para consolidar a técnica como uma medida padrão de mitigação. A adoção proativa de soluções como essa pode tornar o desenvolvimento da energia eólica mais sustentável, conciliando a geração de energia limpa com a conservação da biodiversidade. A medida se mostra uma ferramenta passiva de baixa manutenção, contrastando com outras opções mais complexas, como sistemas de detecção e parada automática.
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