Imagem de Tatiana Zanon no Unsplash
A cada mês, duas línguas indígenas desaparecem no mundo, segundo dados das Nações Unidas. Esse fenômeno, que afeta 40% dos idiomas do planeta, coloca em risco não apenas a comunicação, mas também a riqueza cultural e histórica de povos tradicionais. Apesar de o ritmo de extinção ser mais lento do que o estimado, a situação permanece alarmante, especialmente em regiões como o Canadá, onde pesquisas recentes apontam para um futuro incerto para diversas línguas nativas.
Um estudo conduzido por Michaël Boissonneault, professor da Universidade de Montreal, em colaboração com historiadores e linguistas, utilizou projeções demográficas para prever o número de falantes de 27 línguas indígenas canadenses até o ano de 2101. Publicado na Royal Society Open Science, o trabalho revelou que, embora algumas línguas, como o inuktitut e o atikamekw, devam dobrar o número de falantes, outras 16 podem perder até 90% de seus usuários no mesmo período.
O método empregado, conhecido como método dos componentes, considerou fatores como mortalidade, fertilidade e migração. No entanto, a análise enfrentou desafios, especialmente devido ao pequeno número de falantes de algumas línguas, que em certos casos não ultrapassam 100 pessoas. Para contornar essa limitação, os pesquisadores agruparam idiomas semelhantes, obtendo projeções mais robustas.
A pesquisa também destacou diferenças regionais significativas. No oeste do Canadá, muitas línguas estão em declínio acelerado, reflexo de trajetórias históricas marcadas pela colonização. Já no leste, boa parte dos idiomas indígenas desapareceu há décadas. Apesar disso, os dados mostram que o ritmo atual de extinção é menos intenso do que o previsto, o que surpreendeu os especialistas envolvidos no estudo.
Um ponto importante é que a projeção não levou em conta iniciativas de revitalização linguística, que podem alterar significativamente o cenário futuro. Projetos que incentivam o ensino e o uso de línguas indígenas em comunidades urbanas e rurais têm potencial para reverter tendências negativas. Além disso, fatores como urbanização e políticas públicas voltadas para a preservação cultural podem desempenhar um papel decisivo na manutenção desses idiomas.
Boissonneault ressalta a importância de envolver as comunidades indígenas no processo de pesquisa e na elaboração de estratégias de preservação. Ele também defende a ampliação do modelo para incluir as cerca de 70 línguas indígenas faladas no Canadá, reconhecendo que essa diversidade representa uma riqueza cultural inestimável.
A Década Internacional das Línguas Indígenas, proclamada pela ONU para o período de 2022 a 2032, reforça a necessidade de ações urgentes para proteger esses idiomas. A perda de uma língua não significa apenas o desaparecimento de um meio de comunicação, mas também a erosão de conhecimentos tradicionais, histórias e identidades culturais.
O estudo serve como um alerta para governos, pesquisadores e sociedade civil: a preservação das línguas indígenas é essencial para manter a diversidade cultural global. Enquanto algumas línguas resistem, outras estão à beira do silêncio, e o tempo para reverter essa tendência é cada vez mais curto.
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