Imagem Matteo Piscioneri no Unsplash
Os oceanos estão repletos de um poluente quase imperceptível, mas com efeitos devastadores: os nanoplásticos. Essas partículas, menores que um fio de cabelo, ultrapassam barreiras celulares e se infiltram na cadeia alimentar marinha, representando um risco silencioso para a vida no planeta. Um estudo recente estima que 27 milhões de toneladas desses fragmentos estão dispersos apenas na camada superficial do Atlântico Norte, revelando uma crise ainda mais profunda do que se imaginava.
Diferentemente dos microplásticos, que variam de um micrômetro a cinco milímetros, os nanoplásticos medem menos de um micrômetro e comportam-se de maneira distinta no ambiente. Pesquisadores descobriram que essas partículas não se depositam no fundo do mar, mas permanecem em suspensão, movendo-se aleatoriamente pela coluna d’água devido ao movimento browniano e às colisões com moléculas de água. Essa característica facilita sua disseminação e absorção por organismos marinhos.
A pesquisa, liderada por cientistas do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, na Alemanha, analisou amostras de água em três profundidades diferentes no Atlântico Norte. Foram detectadas concentrações médias de 18 miligramas por metro cúbico de três tipos de polímeros: tereftalato de polietileno (PET), poliestireno (PS) e policloreto de polivinila (PVC). Curiosamente, o polietileno (PE), um dos plásticos mais comuns, estava ausente nas amostras, sugerindo que essas partículas podem sofrer transformações químicas ou afundar rapidamente.
A presença de nanoplásticos em ecossistemas marinhos preocupa especialistas. Tony Walker, cientista ambiental da Universidade Dalhousie, no Canadá, alerta que essas partículas podem atravessar membranas celulares, integrando-se ao fitoplâncton – base da cadeia alimentar oceânica – e contaminando toda a vida marinha. A disseminação global desses resíduos já foi documentada desde áreas urbanas até regiões remotas, como montanhas intocadas, além de tecidos humanos, incluindo cérebro e placenta.
Diante desse cenário, a comunidade internacional discute medidas para conter a poluição por plásticos. Em agosto de 2025, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará a última rodada de negociações para um tratado global sobre o tema, com proposta de limitar a produção de plásticos virgens. No entanto, países dependentes da exportação de petróleo e gás resistem à ideia. Para Walker, a solução é clara: é preciso fechar a torneira da produção descontrolada.
Enquanto isso, a contaminação por nanoplásticos segue como um desafio complexo, exigindo não apenas políticas eficazes, mas também avanços tecnológicos para monitorar e mitigar seus impactos. A invisibilidade dessas partículas não pode mais ser desculpa para ignorar sua ameaça.
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