Exposição precoce a antibióticos e PFAS está ligada ao desenvolvimento de autismo e TDAH, revela pesquisa

Uma pesquisa realizada pela Universidade da Flórida e Universidade de Linköping, publicada na revista Cell, destaca um risco relacionado a exposição a antibióticos e PFAS nos primeiros anos de vida.

Pioneiro em sua abordagem, o estudo analisou a composição da biota intestinal e diversos fatores relacionados ao desenvolvimento do sistema nervoso infantil de mais de 16.000 crianças desde o nascimento até os vinte anos. Dessas, 7,3% foram diagnosticadas com transtornos do desenvolvimento neurológico. Os resultados revelaram marcadores biológicos associados a distúrbios neurológicos, como transtorno do espectro autista, TDAH, transtorno de comunicação e deficiência intelectual, identificados desde o nascimento até a primeira década de vida.

Análises ambientais e de estilo de vida revelaram diferenças na microbiota intestinal já no primeiro ano de vida entre crianças que desenvolveram autismo ou TDAH. Fatores como o uso de antibióticos durante esse período e infecções recorrentes no ouvido foram associados a um maior risco de distúrbios neurológicos.

Durante o processo de coleta de amostras sanguíneas do cordão umbilical no nascimento das crianças, os pesquisadores examinaram as concentrações de várias substâncias metabólicas, incluindo ácidos graxos e aminoácidos, bem como substâncias externas nocivas, como nicotina e toxinas ambientais. Este estudo comparou as substâncias presentes no sangue do cordão umbilical de 27 crianças diagnosticadas com autismo com um grupo equivalente de crianças sem o diagnóstico.

Os resultados revelaram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo apresentavam níveis reduzidos de várias gorduras essenciais no sangue do cordão umbilical, incluindo o ácido linolênico, necessário para a síntese de ácidos graxos ômega 3, conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e diversos efeitos no cérebro.

Além disso, este mesmo grupo exibiu concentrações mais elevadas de uma substância conhecida como PFAS em comparação com o grupo de controle. As PFAS, usadas em várias aplicações, incluindo retardadores de chama, foram associadas a efeitos adversos no sistema imunológico e podem ser ingeridas por meio da água potável, alimentos e ar respirado pelas pessoas.

A presença de certas bactérias, como Citrobacter, ou a ausência de outras, como Coprococcus, mostrou-se relacionada ao risco futuro de diagnóstico de autismo. Estudos anteriores já haviam evidenciado os efeitos prejudiciais dos antibióticos na microbiota intestinal, aumentando o risco de doenças imunológicas.

Além disso, o estudo reforça a ligação entre o tabagismo dos pais e o risco aumentado de diagnósticos neurológicos na criança, enquanto a amamentação demonstrou efeito protetor.

Embora os resultados tenham sido observados em crianças suecas, sua generalização a outras populações requer estudos adicionais. Ainda é incerto se o desequilíbrio na microbiora intestinal é uma causa direta ou um resultado de outros fatores, como dieta ou uso de antibióticos.

Apesar das ressalvas, a identificação precoce de biomarcadores para distúrbios neurológicos abre caminho para o desenvolvimento de protocolos de triagem e medidas preventivas eficazes a longo prazo.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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