Fauna

Estudo mostra que a cultura é essencial na alimentação dos orangotangos

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A sobrevivência na densa floresta tropical exige mais do que instinto; requer um conhecimento profundo dos recursos disponíveis. Para os orangotangos, esse aprendizado é um processo social e cultural, transmitido meticulosamente de mãe para filho ao longo de uma infância prolongada. Uma pesquisa publicada na revista Nature Human Behaviour demonstra que o vasto repertório alimentar desses primatas, que inclui centenas de itens, não pode ser adquirido individualmente. Esse acervo de saberes é um patrimônio cultural, construído e refinado ao longo de gerações.

O estudo, conduzido por uma equipe internacional, utilizou dados coletados durante 12 anos de observação de orangotangos selvagens em Suaq Balimbing, na Indonésia. Para decifrar como o conhecimento é transmitido, os pesquisadores desenvolveram um modelo de simulação que recriou a vida dos animais desde o nascimento até a idade adulta. O modelo incorporou comportamentos sociais fundamentais para o aprendizado, como a observação atenta de outros indivíduos se alimentando e a simples proximidade com membros do grupo durante as refeições.

Os resultados foram esclarecedores. Orangotangos criados em simulações com acesso a interações sociais normais desenvolveram uma dieta com cerca de 224 tipos de alimentos, espelhando o comportamento de seus congêneres na natureza. No entanto, quando privados de observação próxima e associações sociais, os indivíduos simulados apresentaram um cardápio drasticamente mais pobre. Esse repertório limitado não se aproximou da diversidade observada em orangotangos selvagens, mesmo com centenas de milhares de oportunidades de encontrar comida.

A pesquisa oferece a evidência mais robusta até o momento de que as dietas dos orangotangos são um produto da acumulação cultural. As descobertas sugerem que as raízes desse processo cultural em primatas podem remontar a pelo menos 13 milhões de anos, traçando uma linha evolutiva até o último ancestral comum com os grandes macacos. A presença constante da mãe e os breves encontros com outros orangotangos durante a juventude funcionam como um aprendizado vital, pavimentando o caminho para uma vida independente e bem-sucedida na floresta.

As implicações para a conservação da espécie são profundas. Com populações de orangotangos em declínio, o estudo alerta para os riscos enfrentados por órfãos que são reintroduzidos na natureza. Indivíduos que não tiveram acesso ao “cardápio cultural” completo podem enfrentar subnutrição ou envenenamento por plantas desconhecidas. Programas de reintrodução que se empenham em ensinar os primatas a se alimentarem fora do cativeiro tornam-se, portanto, uma ferramenta de preservação não apenas genética, mas também cultural, garantindo a esses animais as melhores chances de prosperar em seu habitat natural.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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