Imagem de Pawel Janiak no Unsplash
A água da chuva que escorre pelas folhagens das florestas tropicais carrega um tesouro invisível: fragmentos de DNA deixados por animais e plantas. Essa assinatura genética, conhecida como DNA ambiental (eDNA), oferece uma janela única para a biodiversidade das copas das árvores, um dos ecossistemas mais inacessíveis e menos explorados do planeta. Uma pesquisa inovadora, conduzida em uma floresta antiga da Guiana Francesa, demonstrou o potencial dessa técnica para revolucionar o monitoramento ambiental.
O estudo, publicado na revista Science Advances, comparou a diversidade genética coletada pela água da chuva em uma floresta primária e em uma plantação de árvores próxima. Os resultados foram reveladores. A floresta nativa apresentou uma riqueza significativamente maior, com identificação de 155 taxa de plantas, 61 de vertebrados e 276 de insetos. Na plantação, os números foram inferiores: 111, 32 e 153, respectivamente. O contraste evidencia o impacto da substituição de florestas por monoculturas na vida silvestre.
A metodologia mostrou-se precisa e localizada. Testes de controle, que incluíram a pulverização de suco de cenoura no dossel, confirmaram que o sinal de DNA permanece detectável por um período entre 8 e 20 dias. A técnica também se mostrou espacialmente precisa, capturando assinaturas genéticas de organismos que vivem a dezenas de metros de distância do ponto de coleta, e não de quilômetros, como pode ocorrer com o eDNA coletado de rios ou do ar.
A abordagem é apresentada como uma alternativa eficiente e não invasiva. Diferente de outros métodos, que podem ser caros e intrusivos, a coleta de eDNA da água da chuva dispensa a necessidade de escalada de árvores ou de equipamentos complexos, reduzindo custos e o distúrbio ao ambiente. Enquanto o eDNA do solo revela principalmente a vida no chão da floresta, a água da chuva oferece um retrato fiel da vida no dossel.
A técnica abre caminho para um monitoramento em larga escala de ecossistemas ameaçados. A capacidade de detectar uma gama tão vasta de organismos – de anfíbios como a perereca Trachycephalus hadroceps a insetos como o gafanhoto Monachidium lunum – de forma tão prática fornece dados vitais para estratégias de conservação. Esta ferramenta pode ser fundamental para descrever a diversidade elusiva das copas das florestas tropicais e para informar políticas robustas de proteção ambiental.
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