Descartar borra e café no ralo pode ser um problema

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Em milhões de lares brasileiros, o ritual do café é diário. No entanto, o simples ato de despejar a borra ou o líquido residual na pia ou no ralo pode prejudicar rios, lagos e o mar. A substância, longe de ser inofensiva, transforma-se em um contaminante persistente que desafia as estações de tratamento e ameaça a vida aquática.

O resultado é que mesmo a água tratada frequentemente retorna aos corpos hídricos carregando traços do estimulante. A presença da cafeína em rios é um fenômeno global, detectado em mais da metade de 258 rios analisados em um estudo que abrangeu 104 países.

Os sistemas de drenagem urbanos são projetados para receber apenas água da chuva. O descarte de borra de café é uma prática especialmente problemática, podendo causar entupimentos na rede interna das residências. O café, em sua forma líquida ou sólida, altera a química da água. Ele reduz o pH e introduz compostos orgânicos que, ao se decomporem, consomem oxigênio dos sistemas aquáticos.

O crescimento descontrolado de algas é outro efeito colateral. Os nutrientes presentes no resíduo funcionam como um adubo, estimulando a proliferação desses organismos. Esse processo pode levar à eutrofização, que reduz ainda mais os níveis de oxigênio na água, criando zonas mortas onde plantas e animais aquáticos não conseguem sobreviver. Pesquisas demonstram que a cafeína afeta o metabolismo, o crescimento e a mobilidade de algas e de larvas de insetos aquáticos.

Em eventos de chuva forte, o risco ambiental se intensifica. Muitos sistemas de esgoto podem transbordar quando sua capacidade é ultrapassada. Nessas situações, uma mistura de esgoto não tratado e água pluvial é direcionada diretamente para rios e córregos, uma medida de emergência para evitar inundações. Todo o conteúdo descartado indevidamente nas pias, incluindo o café, integra esse fluxo poluente.

A solução doméstica é simples e exige uma mudança de hábito. A borra e o líquido residual do café devem ser destinados ao lixo orgânico comum, caso o município não ofereça coleta seletiva para resíduos alimentares. Uma alternativa seria colocar na composteira doméstica, que transforma o material em adubo. Para jardins, o uso do café como tônico para plantas é viável, mas requer cuidado. A aplicação repetida no mesmo local causa o acúmulo de cafeína e outros sólidos, tornando o solo prejudicial para o desenvolvimento da vegetação.

A gestão da qualidade da água é um desafio complexo que envolve infraestrutura, políticas públicas e investimento. A ação individual, porém, constitui uma peça fundamental nesse quebra-cabeça. Preservar os ralos e pias do despejo de resíduos como o café é uma atitude que beneficia o meio ambiente e a saúde dos ecossistemas hídricos.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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