Correntes oceânicas podem ser aliadas na limpeza do Grande Depósito de Lixo do Pacífico

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No vasto oceano entre o Havaí e a Califórnia, uma imensa mancha de lixo flutua, formada por toneladas de detritos plásticos e outros resíduos. Conhecida como o Grande Depósito de Lixo do Pacífico, essa área, do tamanho do estado do Texas, é um dos maiores símbolos da poluição marinha. Tradicionalmente, a limpeza desse lixo envolve o uso de redes arrastadas por embarcações, método que, embora bem-intencionado, gera altos custos financeiros e ambientais devido ao consumo de combustível. No entanto, um estudo recente publicado na revista Ocean Science propõe uma abordagem mais eficiente, utilizando as próprias correntes oceânicas para concentrar e facilitar a coleta dos resíduos.

A pesquisa, liderada por Luca Kunz, estudante de pós-graduação da Universidade de Hamburgo, e com a participação do cientista Rodrigo Duran, do Instituto de Ciências Planetárias, analisou dados de satélites e sensores flutuantes para identificar padrões de circulação das correntes superficiais. Esses padrões, chamados de Perfis de Atração Transitória (TRAPs, na sigla em inglês), são áreas onde objetos flutuantes, incluindo lixo, se agregam naturalmente devido à ação de redemoinhos oceânicos.

Os redemoinhos, que podem ter entre 60 e 180 milhas de diâmetro, funcionam como imãs para detritos, concentrando-os em regiões que podem atingir até 60 milhas de extensão. Essas estruturas, embora temporárias, permanecem estáveis por cerca de seis dias, tempo suficiente para que equipes de limpeza possam atuar de forma mais direcionada e menos dispendiosa.

Rodrigo Duran explica que, ao compreender esses padrões, é possível posicionar as embarcações estrategicamente, mantendo as redes fixas em locais onde as correntes naturalmente concentram o lixo. Essa abordagem não só reduz o consumo de combustível, mas também otimiza o tempo e os recursos envolvidos na operação.

Além da aplicação na limpeza de oceanos, a pesquisa tem potencial para auxiliar em outras situações críticas, como operações de busca e resgate de pessoas desaparecidas no mar ou na localização de cargas perdidas por navios. O estudo também pode ser útil no monitoramento de eventos atmosféricos, como erupções vulcânicas e incêndios florestais, ajudando aeroportos a redirecionar voos com maior precisão.

A pesquisa foi desenvolvida em colaboração com a Universidade de Hamburgo e a organização não governamental The Ocean Cleanup, sediada na Holanda, que desenvolve tecnologias para remover plásticos dos oceanos. Os resultados representam um avanço significativo no combate à poluição marinha, demonstrando como a ciência pode transformar desafios ambientais em oportunidades inovadoras.

Com informações detalhadas sobre os TRAPs e suas configurações mais comuns, os pesquisadores esperam que essa metodologia seja adotada em larga escala, contribuindo para a preservação dos ecossistemas marinhos e a redução do impacto humano nos oceanos.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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