Conhecimento indígena: qual sua importância?

O conhecimento indígena se refere aos métodos que os povos nativos encontraram de aproveitar os benefícios da natureza sem causar danos. Essas pessoas usaram e usam até hoje as informações que adquiriram sobre plantas medicinais, costura, alimentos e materiais de construção ecológicos como forma de preservar a biodiversidade de seus territórios. 

Um estudo, da Governança Florestal por Povos Indígenas e Tribais, revela que o número de desmatamentos em regiões protegidas por territórios indígenas é consideravelmente menor do que no resto do país. Isso é notado, principalmente, em terras que são reconhecidas pelo governo e que os povos têm formalmente os direitos territoriais coletivos.

Segundo a pesquisa, as terras indígenas possuem mais de um terço de todo o carbono armazenado nas florestas latino-americanas e caribenhas. Ou seja, cerca de 14% do estoque de carbono do mundo todo. Além disso, o relatório também aponta que os conhecimentos tradicionais indígenas evitam a emissão de até 59,7 milhões de toneladas de CO2 todos os anos.

Povos indígenas: quem são e qual sua importância

Conhecimento dos povos indígenas e sua função

O conhecimento indígena é o resultado de séculos de luta pela sobrevivência desses indivíduos. As necessidades desses povos foram a chave para alcançar sabedoria sobre os recursos naturais que o planeta pode oferecer. Mas, para além do conhecimento pessoal, comunidades indígenas contribuíram para o enriquecimento da ciência – fornecendo uma visão sobre plantas e técnicas de cura com potencial medicinal.

A característica mais importante da ação dos indígenas na biodiversidade é o entendimento de que, sem ela, não existem recursos biológicos para a sobrevivência humana. Por isso, essas pessoas desenvolveram práticas de extração não predatórias, o que as tornam grandes guardiões e protetores do meio ambiente.  

Apesar desses sistemas de conhecimento não terem embasamento científico, a sobrevivência secular de diversos povos indígenas já revela a importância que sua sabedoria tradicional pode ter para a saúde, a alimentação e a produção têxtil. Desta forma, o acesso desse conhecimento deve ser feito de maneira que seja valorizado o trabalho de povos tradicionais.

Alguns exemplos de sabedoria indígena que contribuem para a sociedade como um todo são:

  • O povo tucano do rio Negro, que recorria as propriedades anestésicas da casca de Leptolobium nitens para a caça, aplicando o ingrediente em suas flechas;
  • A comunidade siona, que fica localizada entre a Colômbia e o Equador, que usa o látex leitoso da Euphorbia hirta para o tratamento de infecções nos pés;
  • Indígenas do povo cubeo, da Amazônia, usam caules e raízes da árvore Connarus ruber como isca de pesca, pois ela tem propriedades que interferem na respiração branquial dos peixes;

A ameaça ao conhecimento indígena

O Brasil é habitado por 1.693.535 pessoas indígenas e contém cerca de 573 territórios tradicionais reconhecidos pelo Estado, conforme o Censo de 2022. Apesar de o número ser exponencialmente maior do que o Censo anterior, o de 2010, que determinou 900 mil indígenas de 505 áreas, ele ainda é muito menor do que quando os portugueses chegaram ao país pela primeira vez, por volta de 1500. 

Por muitos séculos, os povos indígenas foram explorados e escravizados — a proibição da sua escravização só veio a acontecer em 1757. Mesmo com a criação de instituições que preservaram a sua existência, como o Serviço de Proteção ao Índio (1910-1967), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Estatuto do Indígena, nações indígenas foram massacradas pela exploração e opressão colonizadora. 

O direito à posse das terras só veio a ser instituído com a promulgação da Constituição Federal de 1988.  Antes disso, não havia nenhum tipo de demarcação que impedisse a invasão de mineradores, garimpeiros e grileiros. 

Além das diversas tentativas históricas de apagamento da existência indígena, a sua sabedoria ainda sofre com o risco de ser apagada. Relatórios mundiais apontam que 91% do conhecimento sobre usos medicinais de plantas, presentes na Amazônia e na Nova Guiné, correm o risco de desaparecer para sempre por serem exclusivos de línguas indígenas.

Com o avanço da globalização, os ataques a comunidades nativas e a redução da população nativa de uma língua específica, essa sabedoria pode um dia deixar de existir. Afinal, dados da Unesco apontam que mais de 30% dos 7.400 idiomas do mundo vão deixar de ser falados até o final do século XXI.

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Como contribuir para a luta indígena?

A preservação de comunidades indígenas é um passo essencial para a manutenção da biodiversidade mundial. Algumas formas que você pode contribuir para a luta desses indivíduos é:

  • Conversando com pessoas indígenas e entendendo suas necessidades perante a sociedade;
  • Defendendo pautas de preservação territorial;
  • Comprando produtos feitos por indígenas;
  • Fazendo doações, para campanhas responsáveis, que sejam direcionadas aos povos vulnerabilizados;
  • Levando informação sobre a importância do conhecimento indígena e a sua relação com a natureza;
  • Respeitando territórios de comunidades tradicionais;
  • Desconstruindo seu racismo para com essas pessoas;
  • Aprofundando-se sobre os direitos indígenas garantidos pela Constituição;
  • Evitando o consumo de produtos produzidos em terras indígenas invadidas;
  • Pressionado autoridades para cumprir com suas responsabilidades perante esses povos;

O relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) aponta que o mundo natural está diminuindo em um ritmo nunca visto antes. Cuidar do meio ambiente de forma individual, por meio da reciclagem ou do consumo sustentável, não é o suficiente para garantir a manutenção da biodiversidade do planeta Terra.

As pessoas precisam se posicionar a favor das comunidades que armazenam séculos de conhecimento sobre o meio ambiente e o uso de recursos naturais como fonte de sobrevivência. Lutando ao lado de comunidades nativas, historicamente ligadas aos cuidados com a natureza, a sociedade pode alcançar um futuro mais sustentável para as próximas gerações.

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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