Imagem de Ganesh Partheeban no Unsplash
O aquecimento profundo dos oceanos está criando condições cada vez mais favoráveis ao surgimento de ciclones tropicais extremamente intensos, capazes de ultrapassar os limites das classificações oficiais atuais. Pesquisas recentes indicam que essas áreas, conhecidas como hotspots oceânicos, vêm se expandindo no Atlântico Norte e no Pacífico Ocidental, elevando o risco de tempestades devastadoras atingirem regiões densamente povoadas.
Esses hotspots se caracterizam pela presença de águas quentes não apenas na superfície, mas também em camadas mais profundas do oceano. Essa combinação fornece energia contínua às tempestades, permitindo que elas se intensifiquem rapidamente e mantenham ventos excepcionais por mais tempo. A análise científica aponta que até 70% da expansão dessas zonas está associada ao aquecimento global causado pela atividade humana, enquanto a variabilidade natural do clima responde por uma parcela menor do fenômeno.
A intensificação dessas áreas coincide com o aumento da ocorrência de ciclones que superam 160 nós de velocidade do vento, patamar que extrapola a atual categoria máxima reconhecida por agências meteorológicas, a categoria 5. Diante desse cenário, pesquisadores defendem a criação de uma categoria 6 para classificar tempestades de força extraordinária, alinhando a escala a uma realidade climática em transformação.
O histórico recente reforça o alerta. Entre o início da década de 1980 e 2011, apenas oito ciclones atingiram esse nível extremo de intensidade. Já no período entre 2013 e 2023, foram registrados dez eventos com essas características, concentrando mais da metade dos casos em apenas uma década. O dado evidencia uma aceleração preocupante na frequência dessas supertempestades.
Grande parte desses ciclones extremos se forma em regiões específicas. No Pacífico Ocidental, o principal hotspot se estende a leste das Filipinas e de Bornéu, área historicamente marcada por tufões devastadores. No Atlântico Norte, a zona crítica envolve Cuba, Haiti, República Dominicana, Flórida e áreas adjacentes, avançando tanto em direção ao Golfo do México quanto para o leste, próximo ao norte da América do Sul.
Eventos emblemáticos ajudam a dimensionar o problema. O tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas em 2013, provocou milhares de mortes ao chegar ao continente em intensidade máxima. No Japão, o tufão Hagibis causou prejuízos bilionários em 2019, mesmo após perder força antes de alcançar Tóquio. Já o furacão Wilma, em 2005, permanece como o mais intenso já registrado no Atlântico. No Pacífico oriental, o furacão Patricia superou todos os recordes ao alcançar ventos estimados em até 185 nós, um patamar que extrapolaria qualquer classificação vigente.
O diferencial desses hotspots está na profundidade do calor armazenado no oceano. Em áreas onde a água quente se limita à superfície, a passagem de um ciclone costuma misturar camadas mais frias, reduzindo a intensidade da tempestade. Nos hotspots, essa autorregulação quase não ocorre, permitindo que os sistemas continuem se fortalecendo. Ainda assim, fatores atmosféricos, como ventos em altitude e umidade, também influenciam a evolução de cada evento.
Reconhecer oficialmente a existência de ciclones de categoria 6 é apontado como uma medida estratégica para a gestão de riscos. Uma classificação mais precisa pode melhorar o planejamento urbano, orientar políticas de adaptação climática e oferecer informações mais claras à população exposta a eventos extremos cada vez mais frequentes.
O avanço dessas supertempestades revela uma face concreta da crise climática. O aquecimento dos oceanos, impulsionado pela emissão contínua de gases de efeito estufa, já está reconfigurando a dinâmica dos ciclones tropicais. Em um planeta mais quente, tempestades mais fortes deixam de ser exceção e passam a integrar um novo padrão climático, exigindo respostas urgentes de governos, instituições científicas e da sociedade.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais