Brasil tem mais de 1,2 milhão de famílias que vivem em casas sem banheiro: 83,5% delas são chefiadas por pessoas negras e 70% por mulheres

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Por Ipea | Um estudo que acaba de ser publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 16,3 milhões de famílias brasileiras vivem em casas com inadequações como falta de banheiro (3% do total), ausência de abastecimento de água pela rede pública (17%) e de esgotamento sanitário (22%), entre outras. Elas representam quase 40% das famílias inscritas no CadÚnico (2024) e o custo estimado para superação dos problemas é de quase R$274 bilhões.

Para medir as inadequações, a pesquisa utilizou a base de dados referente ao ano de 2024 do CadÚnico, que reúne informações da população com renda per capita de até meio salário-mínimo, ou até três salários-mínimos como renda familiar total. Já para estimar os custos das melhorias habitacionais necessárias para superar as inadequações, foram usados valores que constam na Instrução Normativa (IN) nº 26 do Ministério das Cidades, de 08 de agosto de 2025.

O trabalho também mostra que 78% das famílias que sofrem com pelo menos um tipo de inadequação habitacional são chefiadas por mulheres. Além disso, as chefiadas por pessoas negras (pretas e pardas) representam 74,64% das que vivem em casas com inadequações, um percentual ainda maior do que elas representam no total das registradas no CadÚnico (68,89%).

“Os números evidenciam as múltiplas camadas de desigualdades geradas por fatores como raça e gênero, demonstrando que a falta de acesso a direitos básicos incide de formas distintas sobre a população, recaindo com mais intensidade em certos grupos”, afirmou o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, Renato Balbim, que assina o estudo. O autor também ressalta que, enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentam maior percentual de famílias negras que vivem em domicílios com ao menos uma inadequação habitacional, a desigualdade de gênero se expressa de maneira homogênea em todo país.

Inadequações

O tipo mais prevalente de inadequação habitacional é a ausência de alternativa de esgotamento sanitário, que acomete mais de 9 milhões de famílias (21,88% das registradas no CadÚnico). Em seguida vêm ausência de abastecimento de água por rede pública (17,17%), adensamento excessivo (8,36%), ausência de energia elétrica (7%), de água canalizada (6,99%) e de banheiro (3,03%), material de parede inadequado (2,68%) e material de piso inadequado (2,22%).

A Bahia é o estado que mais concentra famílias que moram em situação inadequada (12,02%), seguida por Pará (9,41%), Pernambuco (8,17%) e Rio de Janeiro (7,82%).

O estudo também elenca as soluções de melhorias habitacionais necessárias para resolver cada tipo de inadequação e os custos individuais e globais de cada uma delas.

Evolução

O último diagnóstico tinha sido feito pelo Ipea em 2023, usando os dados de 2019 do CadÚnico. A comparação mostra que, enquanto em 2019 os domicílios com algum tipo de inadequação totalizavam 46,6% da base, em 2024 esse percentual caiu para 39,4%, ainda que o número absoluto de famílias tenha aumentado.

Na maior parte dos casos, a porcentagem de famílias com determinada inadequação apresentou variações positivas e/ou negativas de até 10%. O aumento mais expressivo corresponde à ausência de energia elétrica, que teve um crescimento de 45,3% no período, seguido pela ampliação da falta de abastecimento de água (+27,1%) e de esgotamento sanitário (+25,5%), indicando que os lugares de moradia dos mais pobres são aqueles em que há menor cobertura de serviços urbanos básicos.

Em relação aos custos, ainda que a maior parte tenha apresentado variação positiva, apenas adensamento excessivo, ausência de água canalizada, ausência de alternativa de esgotamento sanitário e ausência de abastecimento de água por rede pública obtiveram aumentos acima do acumulado da inflação no período (43,12%).

“A atualização dos dados, além de evidenciar o aprofundamento das inadequações em determinados grupos historicamente subalternizados, desponta para a urgência das melhorias habitacionais não apenas como intervenções pontuais, mas sobretudo como política de habitação estruturada, reafirmando o seu papel estratégico no cumprimento das agendas de desenvolvimento sustentável”, concluiu Renato Balbim.

Acesse o estudo na íntegra.

Este texto foi originalmente publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de acordo com a licença CC BY-SA 4.0. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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