Biocarvão produzido a altas temperaturas neutraliza sedimento contaminado por chumbo

Por  Sebastião Moura em Jornal da USPEstudo conduzido por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba,  mostrou que o biocarvão produzido por pirólise a temperatura de 750 graus Celsius (°C) é eficiente para remediar um sedimento contaminado por chumbo.

“O biocarvão é um produto produzido a partir da pirólise (ou seja, a queima) de material vegetal e/ou animal a temperaturas entre 300 °C e 800 °C, e que pode ser usado na ‘imobilização’ de elementos potencialmente tóxicos (EPTs). Essa estratégia reduz a biodisponibilidade dos EPTs e os impede de serem liberados do solo para o ambiente. A redução da mobilidade de EPTs no ambiente reduz a contaminação de água, plantas e animais; como consequência, reduz o risco de exposição aos seres humanos”, explica Matheus Bortolanza Soares, engenheiro agrônomo responsável pela pesquisa.

O experimento foi realizado com amostras de sedimento provenientes de uma área de beneficiamento de minério de chumbo e prata no município de Apiaí, no interior de São Paulo, que estavam contaminadas com arsênio (As), presente no solo na forma de ânion (carga negativa), e com chumbo (Pb), presente na forma de cátion (carga positiva). A remediação foi feita por meio da aplicação de biocarvão produzido a partir de palha de cana-de-açúcar, pirolisado nas temperaturas de 350 °C, 550 °C e 750 °C.

Os pesquisadores então acompanharam como o As e o Pb presentes em sedimento remediado se comportaram no tempo e espaço. Para isso, monitoraram o potencial de mobilidade dos elementos a cada 45 dias, ao longo de seis meses. Esse processo utilizou, de forma isolada, quatro extratores químicos: água, cloreto de magnésio (MgCl2), ácido nítrico diluído (HNO3) e Mehlich-3 (uma combinação de ácidos, sais e complexante).

O objetivo dessa variedade de extratores foi possibilitar uma compreensão não só do teor do EPT no sedimento, mas também os potenciais específicos de diferentes espécies dos elementos presentes no material e que podem ser liberados do sedimento para o ambiente. Dessa forma, pode-se entender quanto os contaminantes podem ser liberados facilmente do sedimento para o ambiente e quantos deles estão fortemente retidos e, logo, não representam um risco tão grande de exposição.

“Cada um dos extratores ataca partes específicas do sedimento e dá uma noção da energia de ligação entre os contaminantes e o sedimento: a água remove o teor prontamente disponível dos contaminantes, o cloreto de magnésio extrai o teor dos contaminantes que pode ser liberado por meio de trocas iônicas, o ácido nítrico diluído que pode ser liberado com modificações do pH (reatividade) e o Mehlich-3 que está associado à matéria orgânica”, explica o pesquisador.

Os pesquisadores observaram que o biocarvão produzido a 750 °C gerou grande diminuição na disponibilidade de chumbo. Bortolanza aponta que isso provavelmente se deveu ao fato de a temperatura mais alta gerar um biocarvão mais poroso e com maior pH, o que facilita o aprisionamento do chumbo.

Por outro lado, o arsênio teve sua disponibilidade aumentada devido à adição dos biocarvões, porém esse aumento foi menor nos biocarvões produzidos em maiores temperaturas de pirólise.

De acordo com os pesquisadores, isso ainda não é o ideal, que seria uma estratégia de remediação capaz de diminuir a disponibilidade de ambos os contaminantes. Porém, é muito difícil encontrar uma técnica isolada capaz de fazer isso, já que As e Pb possuem cargas opostas na solução do solo e reagem de maneiras opostas a um mesmo condicionador. Mesmo assim, eles acreditam que o biocarvão tem bastante potencial para ser usado de forma combinada com outras técnicas de remediação, como a fitorremediação.

“Essas são informações importantes, pois podem orientar quais práticas de manejo devem ser empregadas e informar que tipo de biocarvão é mais adequado de acordo com a combinação dos elementos potencialmente tóxicos em questão”, comenta Luís Reynaldo Ferracciú Alleoni, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e orientador de doutorado de Bortolanza.

Os resultados do estudo foram publicados na forma do artigo Temporal changes in arsenic and lead pools in a contaminated sediment amended with biochar pyrolyzed at different temperatures, na publicação científica Chemosphere, disponível aqui.

Mais informações: Matheus Bortolanza Soares, no e-mail bortolanza@usp.br, e Luís Reynaldo F. Alleoni, no email alleoni@usp.br

Equipe eCycle

Você já percebeu que tudo o que você consome deixa um rastro no planeta? Por uma pegada mais leve, conteúdos e soluções em consumo sustentável.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais