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Artigo da revista “Saúde e Sociedade” mostra como hábitos alimentares podem ser resultado de conflitos internos e relacionados à cultura, que interferem na dieta e na atividade física

Quando se pensa em obesidade, é preciso se despir de preconceitos – como o de achar que alguém fora do peso considerado normal deve ser um “descontrolado”, que se deixa dominar pela gula. Mas então o que leva alguém à obesidade, condição de saúde que afeta 18,9% dos adultos brasileiros? As causas são variadas. E como toda situação complexa, precisa ser analisada em profundidade. Buscar entender, entre outras coisas, quais comportamentos são vividos como cuidado pelas pessoas obesas e quais são as implicações disso para a prática profissional em saúde. Artigo publicado na revista Saúde e Sociedade apresenta uma pesquisa mostrando que hábitos alimentares podem ser o resultado de conflitos internos que acabam por interferir na dieta e na atividade física.

Para a abordagem pretendida, os autores introduzem no artigo uma reflexão sobre o corpo obeso, baseados no referencial filosófico do francês Merleau-Ponty, que afirma: “a obesidade expressa formas de ser; por meio do corpo o homem vivencia o mundo – o corpo carrega valores e percepções”. Os resultados da pesquisa, realizada com sete homens e cinco mulheres, mostram a tomada da decisão de cuidar-se ou não cuidar-se e os fatores que influenciam essa decisão; a “vivência das formas de cuidado, revelando possibilidades e dificuldades encontradas na execução do cuidado” e “emagrecimento como opção ou obrigação, questionando motivações para cuidar-se pela saúde ou atender a padrões estéticos“. A obesidade, segundo os autores, é doença cuja natureza e tratamento são complexos.

Chama-se a atenção para a urgência de políticas públicas capazes de proporcionar e estimular estilos de vida mais saudáveis, pois a obesidade deve ser pensada como fenômeno social, na reflexão necessária quando se quer reduzir o peso, com saúde, descartando “exercícios físicos extenuantes, medicamentos sem prescrição, gerando frustração e tristeza“. Enfrentar a obesidade é priorizar a particularidade do “eu“, o “corpo próprio”, segundo Merleau-Ponty, “que carrega os valores e as percepções do ser“. A pessoa obesa inicia o processo de enfrentamento olhando para seu corpo e não percebendo a obesidade como algo a ser cuidado.

Em um segundo momento, a obesidade passa a fazer parte desse corpo, a consciência desperta para a necessidade de cuidados. Além disso, as doenças associadas, como diabetes e hipertensão, parecem mais fáceis de encarar-se do que a obesidade. Esse processo de perceber o corpo obeso é perpassado por sentimentos, e os hábitos alimentares refletem aspectos emocionais. Mudar hábitos significa mudar sentimentos, o que é um processo difícil e lento. Os médicos recomendam alimentação mais controlada, menos sal, atividade física, mas os autores afirmam haver questões de outra natureza perpassando essa ação, como sentimentos, crenças, luto, etc.

Outro fator de influência na obesidade é a ansiedade, apontada como responsável pelo aumento da vontade de alimentar-se. Aspectos emocionais revelaram ter influência na alimentação de forma compulsiva. Muitas vezes, os pacientes sofrem um tratamento preconceituoso e punitivo, como se fazer dieta não fosse uma escolha, e sim uma obrigação. Combater a obesidade tem como objetivo melhorar a saúde e a autoestima ou é apenas uma obrigação de cumprir padrões que atendem ao ideal de corpo magro? Nesse contexto os autores questionam: “a equipe de saúde tem a missão de prescrever incessantemente tratamentos e dietas? Ou acolher essa pessoa e respeitar sua forma de viver e suas escolhas?“.

Segundo a visão do filósofo Merleau-Ponty, saúde e doença são nuances da forma de ser de um corpo, fazem parte da vida. Existem muitas possibilidades de olhar e tratar a obesidade e, muitas vezes, as pessoas escolhem não emagrecer, “pois têm outras prioridades em sua vida“. Concluindo, os autores afirmam que as escolhas precisam ser respeitadas. Ao dirigirmos a atenção às pessoas obesas em relação aos serviços de saúde, é necessário que seja de maneira integral, considerando as vivências e idiossincrasias de cada um.



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