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Os azocorantes são muito utilizados na indústria têxtil por sua facilidade de produção, baixo custo e grande variedade de cores, porém têm grande caráter prejudicial para a saúde

O uso de corantes para tingimento não é uma prática atual. Esse hábito já existia na antigas civilizações do Egito e da Índia, há mais de dois mil anos. Antigamente, os corantes utilizados eram os naturais, extraídos principalmente de plantas, o que caracterizava um processo de tingimento bastante rudimentar. Com a tecnologia, os corantes antes utilizados foram trocados pelos sintéticos, que podem ser produzidos em diversos tipos de cores e tonalidades, além de apresentarem alta resistência quando expostos, por exemplo, a condições de luz, lavagem e transpiração. De uma vasta opção de fibras para a produção têxtil, a fabricação de corantes concentra-se, em geral, no atendimento à demanda dos tingimentos de fibras de algodão, náilon, acetato de celulose e poliéster.

Azocorantes e seus problemas

Os corantes sintéticos podem apresentar riscos toxicológicos à saúde humana e estão diretamente relacionados com o tempo de exposição, sensibilidade da pele, sensibilidade das vias respiratórias e ingestão oral. Esses corantes que possuem a função azo, identificada pela presença de dois átomos de nitrogênio conectados por uma dupla ligação -N=N- (veja a figura 1) e solúveis em água. Eles têm mostrado que se forem oralmente administrados ou se entrarem em contato com a corrente sanguínea, pelo contato do corante com o suor na pele, podem ser  metabolizados pelas enzimas do fígado e de outros órgãos. Essa metabolização acarreta na quebra da molécula do corante, gerando subprodutos tóxicos, como aminas, benzidinas (veja a figura 2 e a relação na tabela 1) e outros componentes que têm potencial para causarem câncer, como citado na monografia publicada pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC).

Em artigo publicado pelo pesquisador Claudio Roberto de Lima Souza, da Universidade Federal do Paraná, há informações de que pelo menos três mil corantes azos comerciais foram listados como cancerígenos e não tem mais sido fabricado em diversas indústrias. A professora da Universidade de São Paulo, Danielle Palma de Oliveira, aponta os principais problemas dos riscos dos corantes à saúde. “Os riscos identificados são os danos genéticos causados por conta da quebra das moléculas de DNA nas células, esse comportamento mutagênico pode levar ao desenvolvimento do câncer”. Estudos da pesquisadora envolvem 10 corantes da classe química azo e todos tiveram o seu poder de risco à saúde comprovados.

De acordo com os problemas relacionados aos produtos que contém azocorantes, o Parlamento e o Conselho Europeu da União Européia, criaram a Diretiva 2002/61/CE, que proíbe o uso de corantes azóicos que são perigosos e a comercialização de artigos têxteis e de couro tingido com essa substância. Cabendo então aos seus Estados-Membros que se certifiquem que os produtos importados por eles não sejam feitos com corantes azóicos que possam liberar aminas aromáticas acima de 30 ppm nos artefatos acabados.

Figura 1- Exemplo de corante solúvel Vermelho Congo

Figura 2 – Benzidina

Tabela 1- principais corantes com base benzidínica

Situação no Brasil

Após uma reunião entre a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e a Comissão Setorial de Corantes e Pigmentos da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), foi informado que esses corantes nocivos já não são mais produzidos pelos membros da comissão há mais de 20 anos, garantindo que os produtores atendem à Diretiva 2004/21/CE da Comunidade Européia. Um acordo ainda foi formado com essas empresas que irão fornecer declarações sobre seus produtos, atendendo os requisitos europeus.

As empresas que assinaram a declaração acima são:

Preocupação sanitária e ecológica

Os efluentes provenientes da indústria de corante ou de processos envolvendo tingimento também constituem uma uma outra grande preocupação. Os principais problemas ambientais dos corantes têxteis estão relacionados ao impedimento da penetração da luz nos corpos d’água, afetando os seres vivos que dependem dela direta e indiretamente.

O lançamento nos rios de corantes que possuem metais pesados, como cobalto, níquel e cobre, também são um grande problema para o meio ambiente e para a saúde humana. Se esses efluentes penetrarem no lençol freático ou o agricultor utilizar a água contaminada para irrigar as plantações, os problemas relacionados podem ser muitos, como a contaminação de pessoas pela ingestão dos alimentos irrigados, contaminação pela ingestão dessa água e morte de espécies da fauna e da flora local. A seguir, veja a lista de corantes que possuem metal em sua composição:

Tabela 2- Lista dos corantes que contém metais em sua composição

Propostas de minimização dos impactos causados pelos azocorantes

A eCycle tentou entrar em contato por email com a ABIT para questionar a entidade sobre o posicionamento de outros países com relação aos azocorantes, as exportação deles para o Brasil e a legislação que proíbe a entrada de produtos perigosos no país, mas não houve resposta até o momento. A população, portanto, deve se atentar em relação às mercadorias que adquire, principalmente de países que mais exportam produtos têxteis, que não tem certificado de segurança desses corantes comprovada. Veja abaixo a tabela da SEBRAE – 2009, que informa quais os principais países exportadores de produtos têxteis para o Brasil:

Outro ponto imprescindível é que as indústrias têxteis tratem seus efluentes antes de lançá-los ao esgoto, pois esta é uma das principais causas da contaminação por via oral dos azocorantes. A origem do produto e a composição, principalmente dos corantes que foram utilizados no produto, devem ser informados para a população. A reciclagem e o reuso de resíduos, adaptação e otimização dos processos de produção, assim como a substituição desses corantes tóxicos de forma eficiente é uma boa saída. E ainda a indústria deve, sem nenhuma restrição, adotar métodos para a recuperação dos ambientes já contaminados.

Empresas que compram tecidos em larga escala sem o certificado de segurança de sua origem, devem ficar atentas, pois mesmo após a fabricação, pois eles  liberam corantes que podem ser cancerígenos quando lavados, como no caso dos azocorantes. A população também pode optar por utilizar roupas e outros artigos têxteis em sua forma natural, sem a utilização de corantes, como roupas que são feitas a partir de fibras de algodão que já são coloridas naturalmente por manipulação genética – o que torna o produto mais original ainda contribui para a minimização dos impactos causados pelos corantes.


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