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Por meio de modelagens, pesquisadores determinaram locais com paisagem e clima mais apropriados para espécie ameaçada de extinção endêmica do Estado de São Paulo

Imagem editada e redimensionada de Miguelrangeljr, está disponível no Wikimedia e licenciada sob CC by 4.0

O mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) já habitou boa parte das florestas do Estado de São Paulo, mas atualmente ocupa apenas alguns fragmentos da Mata Atlântica remanescente. Nos últimos anos, após vários estudos sobre a espécie endêmica do Estado, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) translocou alguns grupos para áreas onde o animal havia desaparecido. Novas iniciativas nesse sentido têm agora mais um reforço.

Um grupo de pesquisadores do IPÊ, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) cruzou uma série de dados climáticos e de cobertura vegetal (paisagem) para determinar os locais mais adequados para a vida dos animais, o que pode dar suporte a novas translocações – quando um grupo é retirado de um local onde há uma população saudável e transferido para uma área em que deixou de existir.

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado no American Journal of Primatology.

“Usamos dados climáticos e da paisagem para tentar prever quais áreas, dentro da distribuição original do mico-leão-preto, são adequadas para a sobrevivência da espécie. Os modelos mais usados hoje normalmente usam apenas dados climáticos. A novidade do trabalho foi juntar esses dados aos da paisagem. A abordagem permite identificarmos as áreas teoricamente mais adequadas e comparar com aquelas em que realmente os animais se encontram”, explica Laurence Culot, professora do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, em Rio Claro, e coordenadora do estudo.

A pesquisadora lidera o projeto “O efeito da fragmentação sobre as funções ecológicas dos primatas”, financiado pela FAPESP. O estudo tem como primeira autora Gabriela Cabral Rezende, que realizou o trabalho como parte de seu doutorado no IB-Unesp, com bolsa da FAPESP.

Originalmente habitando uma longa faixa longitudinal entre as regiões sudoeste e central do Estado, o mico-leão-preto é hoje considerado em perigo de extinção. O modelo criado pelos pesquisadores mostrou que, atualmente, uma área de apenas 2.096 quilômetros quadrados (km2) é adequada para a vida da espécie, sendo que os animais estão presentes em apenas 40% dela. Originalmente, esse território se estendia por 92.239 km2. O mico-leão-preto, portanto, ocupa hoje menos de 1% da sua área original de distribuição.

“Esses números são bastante alarmantes, mas ao mesmo tempo nos dão uma perspectiva de que existem áreas adequadas onde a espécie não está presente atualmente. Com base nessas informações, traçamos estratégias mais direcionadas”, afirma Rezende.

Restauração florestal

Para determinar as áreas mais adequadas para a espécie, os pesquisadores utilizaram uma metodologia que cruzou dados dos locais onde há populações dos animais hoje, com dados climáticos e da paisagem atual da área originalmente ocupada pela espécie. O modelo apontou mais áreas adequadas do ponto de vista climático do que da paisagem, como nas regiões do Pontal do Paranapanema, no sudoeste do Estado, e do Alto Paranapanema, no sudeste.

“Estas áreas deveriam ser priorizadas para restauração florestal, a fim de conectar os remanescentes de floresta onde a espécie está presente, favorecendo inclusive outros animais”, diz Culot.

Áreas adequadas tanto do ponto de vista climático quanto da paisagem, por sua vez, são as maiores candidatas para receberem iniciativas de translocação, uma vez que os grupos que forem ali introduzidos terão muito mais chances de compor populações saudáveis ecológica e geneticamente. Tanto a sudoeste quanto a sudeste do Estado, algumas áreas se enquadraram nesse critério, indicando essas regiões como de maior prioridade para a conservação da espécie.

Os pesquisadores chamam a atenção, ainda, para a necessidade de se pensar locais que seriam adequados para os micos no cenário de mudanças climáticas, previsto para as próximas décadas. Um estudo de outro grupo já apontou que uma área ao sul de onde atualmente habita uma população, na Serra de Paranapiacaba, sofrerá mudanças que a tornarão mais adequada climaticamente à ocorrência da espécie nos próximos 30 a 60 anos.

Por se tratar de um grande maciço de floresta, o local foi indicado pelo estudo atual como altamente adequado em termos de paisagem. Portanto, a área apresenta grande potencial de abrigar populações de micos no futuro e garantir sua viabilidade.

O mico-leão-preto é conhecido por ter uma certa plasticidade, podendo adaptar-se a mudanças no clima e na paisagem, embora não se saiba com precisão o quanto isso afeta sua fisiologia. A espécie pode ter dietas mais baseadas em frutas ou em pequenos vertebrados, dependendo da disponibilidade. Pode, ainda, mover-se por cerca de 180 metros no chão, entre um fragmento de floresta e outro, embora com isso os indivíduos corram mais risco de serem atropelados, predados ou atacados por animais domésticos. A espécie tem ainda um importante papel na regeneração florestal, dispersando sementes que passam intactas pelo trato digestivo.

Para as pesquisadoras, num cenário em que os recursos para a conservação de espécies são cada vez mais escassos, a priorização de áreas e o direcionamento de estratégias ganham ainda mais relevância, por tornar as ações mais custo-efetivas.

“Esse trabalho mostra como os modelos teóricos podem ser usados de forma prática para subsidiar o planejamento de políticas e ações de conservação, aumentando as chances de sucesso de tais medidas. Apesar de seu direcionamento a uma espécie específica, a abordagem representa uma ferramenta poderosa que pode ser utilizada no estabelecimento de prioridades de conservação para outras espécies.”

O artigo Integrating climate and landscape models to prioritize areas and conservation strategies for an endangered arboreal primate, de Gabriela Cabral Rezende, Thadeu Sobral-Souza e Laurence Culot, pode ser lido em: onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ajp.23202.



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