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Novo estudo mostra que infraestrutura de energia em construção ou planejada vai furar o “teto de emissões” da humanidade

Um estudo publicado esta semana na prestigiada revista científica Nature mostra que a humanidade está casada em comunhão total de prejuízos com um aquecimento global de 1,5 ºC. Seus autores apontam que só a infraestrutura de energia já em construção e planejada no planeta causará emissões de gás carbônico (CO2) mais altas do que o máximo necessário para estabilizarmos o aquecimento da Terra nesse patamar.

É o chamado efeito de emissões comprometidas, ou lock-in, na expressão em inglês. Ele corresponde ao carbono que será inevitavelmente emitido ao longo da vida útil de um equipamento de infraestrutura, como uma usina termelétrica – que pode durar 30 anos ou mais – ou um carro.

A equipe da pesquisadora Dan Tang, da Universidade da Califórnia em Irvine (EUA), estimou que a estrutura já implementada no mundo emitirá, se operar como vem operando até agora, 648 bilhões de toneladas de CO2. Há outras 188 bilhões de toneladas em obras e equipamentos planejados. Ou seja, um total de 846 bilhões de toneladas já estariam encomendados, por assim dizer.

Ocorre que o “teto” de emissões estimado pelos cientistas para que tenhamos uma chance de pelo menos 66% de limitar o aquecimento a 1,5 ºC (como almeja o Acordo de Paris) é de apenas 580 bilhões de toneladas, na melhor das hipóteses. Isso equivale cerca de dez anos de emissões globais no rito atual.

Para limitar o aumento da temperatura abaixo de 2 ºC, que é o objetivo menos ambicioso do acordo do clima, a situação é um pouco melhor: o “teto” estimado de emissões da humanidade é de cerca de 1,2 trilhão de toneladas, embora ele seja contestado por alguns cientistas – que argumentam que nós já gastamos quase metade disso e é preciso considerar emissões de outros gases de efeito estufa além do CO2.

“Nossos resultados mostram que basicamente não existe espaço para nova infraestrutura emissora de CO2 com as metas climáticas existentes. E, se o mundo quiser alcançar 1,5 ºC, as usinas fósseis e os equipamentos industriais existentes precisarão ser aposentados mais cedo, a menos que possam ser equipados com captura e armazenamento de carbono ou que suas emissões possam ser compensadas”, disse Steve Davis, de Irvine, coautor do estudo, publicado no periódico Nature.

Não ajuda o fato de a maioria dessas usinas e desses equipamentos estarem na China: 41% de toda a infraestrutura carbonizante está operando ou planejada para operar no gigante asiático – que tem 250 gigawatts de usinas a carvão para construir, mais do que todo o parque elétrico do Brasil somado.

Os investimentos na China para essa infraestrutura chegam a US$ 6 trilhões, e dificilmente alguém dirá aos chineses para abrirem mão disso. Afinal, mesmo que mais de metade do carbono emitido pela humanidade tenha ido para o ar apenas nos últimos 30 anos, foram os países desenvolvidos que causaram o problema originalmente – e os países em desenvolvimento não se esquecem disso.

A matemática do clima, porém, é implacável e não respeita história ou geografia: usinas chinesas, oleodutos norte-americanos e caminhões brasileiros vão ter que sair de cena.

“Embora analistas de clima e energia enfatizem que evitar 1,5 ºC de aquecimento, por exemplo, é ‘tecnicamente possível’, nossos resultados botam essa possibilidade em contexto: nós teríamos chance razoável de atingir a meta de 1,5 ºC com (1) uma proibição global de qualquer novo equipamento emissor de CO2 – incluindo a maioria das usinas fósseis já propostas, e (2) reduções substantivas nas vidas úteis históricas e/ou na taxa de utilização da infraestrutura já existente”, escrevem Tang e colegas.



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