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Apesar da popularidade, sobrevivência dos coalas está sob ameaça. Poderia o amor humano salvá-los da extinção?

Pequenino, fofo e dorminhoco, o coala é um dos animais selvagens que mais despertam o afeto e a empatia humana. Nativo da Austrália, o simpático marsupial, que poderia facilmente ser confundido com um ursinho de pelúcia, é um chamariz bastante lucrativo para o turismo em seu país de origem. Apesar de sua popularidade, entretanto, o coala figura na lista de animais ameaçados de extinção. O que explica esse fenômeno?

Em artigo publicado no periódico The Conversation, o geógrafo Kevin Markwell, professor da Southern Cross University, aponta que a previsão é que os coalas sejam extintos no estado australiano de Nova Gales do Sul em trinta anos. Para ele, compreender a relação entre coalas e humanos pode ser o primeiro passo para salvar a espécie.

Em sua pesquisa mais recente, publicada no ano passado, Markwell examinou a dinâmica traçando a representação de coalas em livros de história natural, histórias infantis, cartões postais e brochuras de turismo. O professor descobriu que o antropomorfismo – o hábito de atribuir qualidades humanas a animais não humanos – ajudou a mudar, ao longo da história, o ponto de vista coletivo em relação aos coalas: de científico e econômico para romântico e emocional.

Semelhança com bebês pode salvar os coalas da extinção?

O professor Markwell explica que os coalhas compartilham características físicas com bebês humanos, o que os torna ainda mais querido por nós. Segundo ele, o antropomorfismo pode desencadear emoções positivas em humanos, o que ajuda nas ações de conservação.

Enxergar em outros animais semelhanças com a nossa própria espécie fortalece a empatia e a preocupação para com eles. O coala, com seus traços de bebê, desencadeia respostas emocionais positivas em adultos humanos. Na verdade, os coalas ostentam uma propriedade chamada de “neotenia”, que consiste em manter características físicas juvenis mesmo na idade adulta.

Além da aparência, quando estão feridos ou chateados, os coalas ainda emitem um som muito semelhante ao choro de bebês humanos, o que contribui para estreitar ainda mais a identificação entre as espécies. Em última análise, porém, as ameaças aos coalas são o resultado de decisões políticas, nas quais a afeição e a empatia têm desempenhado um papel insignificante.


Expulso de sua árvore, coala “chora” como um bebê humano. Fofo, não é?

O coala na história australiana

De acordo com o professor Markwell, o coala nem sempre foi visto pelos humanos com o olhar amável de hoje. Ele conta que os colonizadores europeus buscaram entender o animal com os quadros de referência disponíveis na época. Por isso, os primeiros relatos do coala referiam-se a ele como um tipo de macaco, preguiça, lêmure ou urso.

No século 19 e no início do século 20, os australianos enxergavam o coala predominantemente através de lentes científicas independentes. Ilustrações científicas e pinturas foram feitas de coalas, e informações e imagens foram publicadas em publicações de história natural e zoologia. Ao mesmo tempo, o coala também era visto como um recurso econômico. Do início de 1800 até 1920, centenas de milhares, senão milhões, foram massacrados para o comércio de peles.

Na década de 1900, as representações zoológicas do coala continuaram a ser publicadas em obras de história natural. O livro The Wild Animals of Australasia, publicado em 1926, afirmava: “O curioso coala, ou urso nativo, é uma criatura que, talvez, tenha a afeição dos australianos mais do que qualquer outro de seus animais selvagens – o que se atribui à sua expressão inocente e infantil e aos seus modos silenciosos e inofensivos”.

Mudança de figura

Dois livros publicados em 1918 incentivaram a afeição pública pelos coalas, como relata o professor Markwell. The Magic Pudding, de Norman Lindsay, apresentava um coala antropomorfizado chamado Bunyip Bluegum, que usava calças elegantes, paletó e gravata borboleta. Snugglepot e Cuddlepie, de May Gibbs, também incluía coalas amigáveis.

Evidentemente, ambos os livros alcançaram muito mais pessoas do que as obras de histórias naturais. Eles ajudaram a alimentar a indignação pública quando a temporada de caça aos coalas foi declarada em Queensland, em 1927.

O surgimento do popular personagem coala Blinky Bill, em 1933, ajudou a humanizar ainda mais a espécie. O rápido crescimento da fotografia no século 20 também ajudou a cimentar o apelo público dos coalas. Grupos de coalas foram organizados para que as fotos fossem reproduzidas como cartões-postais, muitas vezes com a legenda “O ursinho de pelúcia da Austrália”.

O zoólogo Ellis Troughton, em seu livro histórico de 1931, Furred Animals of Australia, registrou o lugar especial que os coalas ocupavam na psique nacional: “Este atraente e indefeso órfão, que se tornou mundialmente famoso em caricaturas e histórias, tem mais a afeição dos australianos do qualquer outro animal de seu país”.

A popularidade dos coalas alimentou uma indústria de turismo emergente, ávida por criar um diferencial nacional no mercado global de turismo. Hoje, a imagem do coala ainda é reproduzida em toalhas de mesa, camisetas, cartões postais e outros souvenirs. Antes da pandemia do novo coronavírus, o valor econômico do coala para o turismo australiano era estimado em até 3,2 bilhões de dólares australianos por ano.

Ao contrário de outras espécies nativas, os coalas agora têm seus próprios “hospitais” exclusivos, espalhados em três estados. No momento em que este artigo foi escrito, uma campanha de financiamento coletivo para o Hospital Port Macquarie Koala, criado após os incêndios florestais de Black Summer, havia levantado quase 8 milhões de dólares australianos.

Na verdade, os coalas atraem muito mais financiamento do governo do que a maioria das espécies. Por exemplo, uma pesquisa no ano passado mostrou que o financiamento para a conservação do coala superou em muito o do vombate-de-narizpeludo-do-norte.

O vombate está listado como criticamente ameaçado em todo o país, enquanto o coala se classifica como vulnerável em algumas partes da Austrália. Apesar disso, especialistas acreditam que os coalas devem enfrentar a extinção no estado de Nova Gales do Sul nos próximos 30 anos. As estimativas da população de coalas selvagens nacionais variam de 140 a 600 mil.

Pode parecer estranho que um animal tão amado possa estar fadado à extinção. Mas a sobrevivência contínua do coala depende de decisões políticas em que a emoção e o sentimento público são frequentemente substituídos pela economia e por interesses financeiros. O professor Markwell aponta que os australianos certamente se preocupam profundamente com seus coalas, mas lembra que esse sentimento deve se traduzir em pressão política coletiva se a população quiser que a espécie sobreviva.


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