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Estudo revela que bebês podem ingerir, em média, 1,6 milhão de partículas de microplástico por dia em mamadeiras

Imagem de Lucy Wolski no Unsplash

Mamadeiras são fundamentais na rotina do bebê, porque é através delas que os pequenos se alimentam e obtêm as gorduras e vitaminas necessárias para crescerem fortes e saudáveis. No entanto, um estudo publicado na revista Nature Food revelou que as mamadeiras também podem ser a causa da ingestão indevida de partículas de microplástico por crianças. A partir de experiências em laboratório com dez tipos de mamadeiras de polipropileno, que representam dois terços do mercado global de mamadeiras, pesquisadores do Trinity College Dublin descobriram que os produtos liberavam entre 1,3 milhão e 16,2 milhões de partículas por litro de fluido.

Observando as taxas de consumo de leite em mamadeiras e de amamentação em todo o mundo, eles estimaram que um bebê consome, em média, 1,6 milhão de partículas de microplástico todos os dias. Na América do Norte, onde mamadeiras de plástico são mais comuns e as taxas de amamentação são mais baixas quando comparadas aos índices de países em desenvolvimento, esse número chega a 2,3 milhões de partículas por dia. Na Europa, a taxa é de 2,6 milhões; na França, Holanda e Bélgica, entretanto, pode chegar até 4 milhões.

As experiências mostraram que o processo de aquecimento e agitação do fluido pode liberar milhões de partículas microplásticas (fragmentos com menos de 5 milímetros de comprimento) do revestimento da mamadeira e, talvez, até trilhões de partículas de nanoplástico (cada uma na escala de bilionésimos de metro). Segundo a pesquisa, esses resíduos podem ficar presos no líquido e fluir para o corpo do bebê, junto com o leite. As implicações dessa ingestão para a saúde ainda são desconhecidas.

Exposição infantil ao microplástico é maior do que se imaginava

Produtos à base de polipropileno são comumente usados para preparação e armazenamento de alimentos, mas sua capacidade de liberar microplásticos é pouco conhecida. Os pesquisadores investigaram a exposição potencial de bebês a microplásticos pela ingestão de líquidos consumidos em mamadeiras de polipropileno. Para estimar a exposição de bebês de até doze meses de idade, em nível global, foram pesquisadas 48 regiões do mundo. Os valores encontrados variam de 14.600 a 4 milhões e meio de partículas por dia.

Os números preocupam, pois revelam que a exposição infantil aos microplásticos é ainda maior do que a reconhecida anteriormente. Isso acontece em razão da prevalência do uso de mamadeiras à base de poilipropileno para preparar e oferecer alimento aos bebês. Os resultados destacam a necessidade de avaliações mais profundas e novos estudos que possam constatar a extensão do risco desses produtos para a saúde infantil.

Para contar a liberação de partículas microplásticas de garrafas de polipropileno, a equipe seguiu o protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a preparação segura de fórmulas infantis. O procedimento inclui esterilizar uma mamadeira vazia em água fervente, secá-la, deixá-la esfriar e, em seguida, enchê-la com água a 70º C. Depois, adiciona-se o leite em pó, agita-se a garrafa e deixa-se a mamadeira de lado para esfriar. Por fim, os pesquisadores passaram a bebida por um filtro para calcular a quantidade de partículas de microplástico deixadas para trás.

O procedimento foi repetido em mais duas preparações – além da fórmula, os pesquisadores utilizaram água da torneira e água deionizada nas preparações. O resultado foi um número semelhante de partículas microplásticas encontradas. Como é mais fácil filtrar as partículas de água pura do que as da fórmula, que é mais densa, o teste também foi feito em água deionizada, como um substituto para a fórmula infantil. Seu filtro poderia capturar microplásticos até 0,8 mícrons (um milhão de um metro), mas o que apareceram foram partículas ainda menores: os nanoplásticos.

Os pesquisadores deram um passo extra ao encontrarem um laboratório independente para verificar a técnica de contagem. O laboratório encontrou um número ainda maior de partículas microplásticas do que a descoberta pela equipe de pesquisadores, apresentando um valor médio de 4,3 milhões de partículas por litro. Os testes ainda revelam que quanto mais alta é a temperatura, maior é o número de partículas de microplástico liberadas.

A 70º C, temperatura recomendada pela OMS para esterilização de mamadeiras, o número de partículas liberadas foi de até 16,2 milhões por litro. A 95 º C, no entanto, o resultado foi de 55 milhões de partículas por litro. Isso significa que o próprio processo de esterilização contribui para a formação de microplásticos.

Os pesquisadores testaram as mesmas mamadeiras repetidamente, ao longo de três semanas, e descobriram que as garrafas continuavam liberando partículas com o tempo. Um dia, a garrafa pode liberar menos. No dia seguinte, entretanto, seus níveis podem disparar novamente.

Implicações da ingestão de microplástico para a saúde infantil

O polipropileno é um polímero emborrachado feito de camadas de um material cristalino, mais resistente, e outro material, mais amorfo. O material amorfo se desprende com muita facilidade, mas o cristalino, que é mais robusto, fica exposto nesse processo. Isso poderia causar um ciclo em que a liberação de partículas atinge o pico em um dia e, no dia seguinte, atinge o ponto mais baixo. Conforme você prepara repetidamente a fórmula em uma garrafa, a água quente corrói as camadas de polipropileno.

Pesquisas anteriores estimaram que os adultos consomem entre 39 mil e 52 mil partículas de microplásticos por ano. Se os cálculos da equipe da Trinity estiverem corretos, os bebês alimentados com mamadeiras plásticas estão recebendo até 4 milhões por dia, ou 1,5 bilhão de partículas por ano. Os pesquisadores ressaltam que, apesar das altas taxas apresentadas no estudo, não é possível – ainda – mensurar que riscos essa ingestão representa para a saúde dos bebês.

O que se sabe, de fato, é que respirar microplásticos pode afetar o tecido pulmonar – e ingeri-los interfere nas fezes. No entanto, não se sabe exatamente quais os efeitos dessa ingestão no corpo humano. Sem uma avaliação de risco, não existe uma norma que regule a ingestão máxima diária tolerável.

Uma vez no corpo humano, os microplásticos podem liberar seus componentes químicos como “lixiviados”, que, como demonstrado anteriormente, prejudicam o comportamento de animais marinhos. Uma pesquisa descobriu que uma variedade de espécies oceânicas que comemos, incluindo caranguejos, lulas e mariscos, têm microplásticos em seus tecidos musculares, o que significa que as partículas podem ter migrado através da parede intestinal.

Em outro estudo, cães foram alimentados com partículas de cloreto de polivinila (também conhecido como PVC) e, posteriormente, a análise do sangue desses animais revelou a presença de microplásticos. Peixes expostos a nanopartículas de plástico acabaram com danos cerebrais depois que as partículas cruzaram a barreira hematoencefálica, uma espécie de campo de força biológica destinado a manter fora do alcance substâncias nocivas, como patógenos, por exemplo.

Enquanto não surgem pesquisas definitivas sobre o assunto, algumas medidas podem ser tomadas para reduzir o número de partículas liberadas na preparação de mamadeiras infantis. A temperatura, por exemplo, é um fator primordial. Após a esterilização da garrafa na água fervente, é importante enxaguá-la pelo menos três vezes em água esterilizada em temperatura ambiente.

Para preparar a fórmula, utilize um recipiente não plástico com água a uma temperatura de pelo menos 70º C. Deixe o líquido esfriar até a temperatura ambiente e só então transfira-o para a garrafa. Essa ação pode evitar que a água quente espirre dentro da garrafa, minimizando o número de partículas liberadas.



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