Qual o impacto ambiental do prazer? Uma barra de chocolate de 100 gramas requer muitos litros de água para ser produzida, entre outros recursos
Você pode rodar o mundo e vai ser difícil encontrar uma pessoa que não goste de chocolate. Uma pesquisa do Ibope, realizada em 2013, revelou que 75% dos brasileiros consomem esse tipo de alimento. No Reino Unido, a população consome, em média, três barras de chocolate por semana. Os maiores fabricantes de chocolate estão localizados nos Estados Unidos e na Suíça, que também estão entre os dez maiores consumidores mundiais de chocolate per capita.
O chocolate, em barra, pó ou outros formatos, é elaborado a partir da fermentação da amêndoa torrada do cacau. O fruto possui ótimas propriedades - ele contribui para a redução da depressão, gera sensação de prazer e alivio da TPM para mulheres, por exemplo - mas, apesar dos benefícios do cacau, o consumo exagerado do chocolate pode causar obesidade e hiperglicemia, mais conhecida como diabetes, que é o excesso de açúcar no sangue. Além disso, existe ainda a questão do impacto ambiental do chocolate. Uma barra de chocolate gera pegadas ecológicas extremamente impactantes ao meio ambiente e à sociedade.
Estudos realizados pela Trucost a partir de solicitação da Friends of the Earth, com os resultados apresentados no relatório Mind Your Step, revelam que, para produzir 100 g de chocolate ao leite (se o chocolate tiver 33 g de pasta de cacau, 13 g de manteiga de cacau, 33 g de açúcar de cana e 20 g de leite em pó) são utilizados 50 litros de água azul, 1350 litros de água verde, 30 litros de água cinza e 2,52 m² de terra (entenda o que são esses tipos de água e o conceito de pegada hídrica). Já a análise da pegada de carbono, a partir de dados da Cadbury, revelou que, para a produção de 49 g de chocolate ao leite são emitidos 169 g de dióxido de carbono.
A maior parte da pegada ecológica ou ambiental (que leva mais em conta os danos à terra) é reflexo da produção da matéria-prima de seus ingredientes: cacau, açúcar e leite. As plantações de cacau requerem grandes áreas para o seu cultivo - a semente do cacau se desenvolve em locais de clima tropical e solos baixos e úmidos, com foco de agricultura mundial centrada na África Ocidental. A Costa do Marfim é o maior produtor mundial de grãos de cacau, que são colhidos manualmente, fermentados, secos e, em seguida, enviados para fabricantes de chocolate, onde são torrados, moídos e misturados para que sejam produzidas manteiga e pasta de cacau.
O Brasil também está entre os maiores produtores de cacau, segundo a World Resources Institute. Em 2013, foram produzidas aproximadamente 256.186 toneladas de cacau com produção localizada em torno da floresta amazônica. Como se não bastasse o desmatamento ilegal, temos que enfrentar o desmatamento causado pelo avanço das plantações de cacau para dentro das florestas - esse problema está se tornando ainda maior, já que a demanda pelo cacau é crescente e os países lideres na produção não conseguem acompanhar o crescimento da demanda mundial. Como a floresta amazônica possui clima e solo favoráveis, ela vem sendo o novo local para suprir a necessidade mundial de cacau, mas esta ameaça não é apenas brasileira, o Peru também avança sua plantações adentro da Amazônia Peruana de forma perigosa.
O estudo referente ao uso do solo e da água da cadeia produtiva do chocolate mostra que produzir os ingredientes corresponde a mais de 90% da pegada ecológica e 88% da pegada de hídrica do produto. A análise do uso da água envolvido na fabricação de uma barra de chocolate revela uma ligação direta entre o gasto de água azul e o teor de açúcar. Isso se dá pelo fato de que o cultivo da cana-de-açúcar necessita de grande volume de irrigação para maximizar o rendimento da produção. A água cinza também é necessária para dissolver os poluentes provenientes das etapas agrícolas na produção do leite e de ovos utilizados para fabricar o chocolate.
Há inclusive grandes empresas fabricantes de chocolate que estão sendo processadas sob acusação de traficar crianças para trabalhar em plantações de cacau da Costa do Marfim, de acordo com o relatório Mind Your Step.
